domingo, 13 de novembro de 2011

The Strokes - Discografia em Vinil


Saudações analógicas a todos!

É com clima de felicidade e de satisfação que estamos de volta, trazendo para vocês as curiosidades e as peculiaridades mais fascinantes acerca dos nossos queridos bolachões. As dificuldades estão aí para serem superadas, e é por isso que a Cantina não pode parar!

Para hoje, caros leitores, a Cantina preparou um cardápio especial, completamente inspirado à moda nova-iorquina: nosso objetivo hoje será explorar em detalhes a discografia completa, em vinil, de uma das mais celebradas bandas das últimas décadas.

Trata-se de uma banda que, vindo a despontar dos porões de Manhattan no início da década de 2000, viria a mudar por completo os rumos da chamada "guitar music" nos anos seguintes, tendo como sua principal característica um som pautado pela releitura moderna e arrojada do protopunk e do rock de garagem do final da década de 60 e início da década de 70, exercendo influência maciça sobre 9 de cada 10 bandas de rock que surgiriam depois deles. Estamos falando de uma banda que, desde o seu primeiro álbum, provou inquestionável a sua importância, gravando seu nome de forma indelével na história da música pop: The Strokes.

O quinteto, formado por Julian Casablancas (vocais e principal compositor da banda), Nick Valensi (guitarra principal), Albert Hammond Jr. (guitarrista-base e filho do músico pop britânico Albert Hammond), Nikolai Fraiture (baixo) e o brasileiro Fab Moretti (bateria), sacudiu o mundo como um terremoto ao lançarem seu primeiro álbum, nos formatos CD e LP (Is This It, de 2001), obra seminal considerada pela crítica como a pedra fundamental do rock dos anos 2000, que acabou rendendo à banda fama e sucesso em escala global (perfeitamente traduzidos na pecha de "salvadores do rock", atribuída pela crítica à banda logo depois).


Em seguida a Is This It, a banda ainda presentearia o público com outros três celebrados álbuns, lançados tanto em formato CD como em LP (Room on Fire, de 2003; First Impressions of Earth, de 2005; e Angles - o mais recente, lançado este ano), e, junto deles, suas respectivas turnês mundiais, que deram ensejo a duas passagens da banda pelo Brasil (a primeira em outubro de 2005, por ocasião do Tim Festival; a segunda em novembro deste ano, por ocasião do festival Planeta Terra).

Apesar de toda a discografia da banda ter sido lançada no formato LP, infelizmente tais bolachões não foram lançados em caráter oficial no Brasil, de maneira que somente através da importação é possível obtê-los. Entretanto, aos que desejam conhecer as suas peculiaridades, segurem-se, pois a partir de agora iremos dissecar por completo todos os Long-Plays lançados até agora pela banda. Vamos nessa?


PRIMEIRO LP: IS THIS IT (2001)

Is This It, dos Strokes, aqui mostrado em sua capa norte-americana (esq.) e em sua capa britânica (dir.)
Obra-prima que viria a redefinir os rumos do rock na década de 2000, Is This It foi gravado no período compreendido entre os meses de março e abril de 2001 no estúdio Transporterraum, que funcionava no porão de uma casa no Lower East Side de Manhattan, tendo sido lançado em datas distintas no Reino Unido (agosto daquele ano) e nos Estados Unidos (dois meses depois, em outubro).

Gravado digitalmente, utilizando técnicas extremamente simples (que incluíam, por exemplo, a distribuição estilo anos 60 dos instrumentos nos canais - uma guitarra no falante direito, outra no esquerdo, voz, baixo e bateria no centro - e a mixagem imediata das faixas após a gravação) e usando um mínimo de camadas e overdubs (opções que serviram como uma luva à proposta lo-fi de Is This It), o álbum surpreende até hoje pela elevada qualidade melódica das composições, pelo carisma e pela rítmica contida nas performances e pela postura quase punk, direta e sem rodeios, complementada por letras que parecem falar diretamente ao coração e à alma da juventude urbana, abordando seus anseios e suas necessidades com ousadia e franqueza poucas vezes vistas. Tais ingredientes transformaram o disco num fenômeno entre o público e num sucesso quase unânime de crítica, de maneira que até hoje, dez anos após o seu lançamento, reconhece-se sua fundamental importância como um dos pináculos da música pop do século XXI - levando-o a figurar, a título de exemplo, no primeiro lugar da lista dos "100 maiores álbuns da década de 2000" elaborada pela lista da New Musical Express (NME), bem como a ocupar sempre as primeiras colocações de listas similares.

Edição Britânica (Rough Trade Records - Número de catálogo RTRADELP 030):

Contracapas das edições americana (esq.) e britânica (dir.)
No Reino Unido, nos meses que antecederam o lançamento de Is This It, já estava sendo alimentado um buzz frenético em cima da banda (cortesia, sobretudo, da revista NME, que não perdia as oportunidades de rasgar elogios ao grupo quando podia). A enorme ansiedade em torno do álbum, que ganhou força com a arrebatadora turnê da banda pelo Reino Unido, entre os meses de junho e julho de 2001, e sua positiva repercussão, aliada à crescente base de fãs que surgia, fez com que, no mês seguinte (mais precisamente no dia 27 de agosto), a Rough Trade Records (selo independente que, até hoje, lança os discos da banda na terra da Rainha) pusesse Is This It no mercado, nos formatos CD e LP.

Para o lançamento no Reino Unido (bem como para os demais lançamentos mundiais imediatamente subsequentes - inclusive no Brasil), optou-se pelo emprego de uma arte de capa que refletisse toda a ousadia que o álbum continha, hoje considerada um clássico: num plano de fundo branco, os quadris nus de uma mulher, com uma mão vestindo uma luva de couro sugestivamente repousada neles. Tal capa foi empregada em toda a sua glória não apenas no CD britânico, mas também na versão em LP. A contracapa trazia uma fotografia em preto-e-branco da banda, posando com altivez e orgulho em uma rua aberta e sem tráfego, como se estivessem preparados para dominar o que estivesse em sua frente.

Com relação ao conteúdo da edição britânica em LP de Is This It, aqui valem ser tecidas algumas críticas. É inaceitável que, justamente no Reino Unido, um álbum desse quilate (ainda mais tendo em conta as expectativas do público britânico sobre o disco) tenha ganhado um tratamento em LP tão pobre de qualidade e de conteúdo. A capa simples, impressa em papelão fosco, com pouquíssimas informações técnicas sobre o disco, bem como a total ausência do simpático encarte da edição em CD (que traz fotos da banda e da equipe de produção do disco) pesam sobremaneira na qualidade final do material. Abrindo a capa do LP britânico, tudo que você encontrará é o próprio disco, conservado em um envelope de papel e plástico. Nada mais.

Selos das edições americana (esq.) e britânica (dir.)
O disco, aliás, não foi prensado em vinil de 180 gramas, ao contrário da edição americana do disco (como veremos adiante), o que desvaloriza ainda mais o LP britânico de Is This It. No deadwax (borda interna do disco próxima ao selo, onde se encontram informações sobre a masterização), nenhuma informação importante, a não ser o número de catálogo do álbum (o que dificulta na hora de saber a origem da prensagem e o responsável pelo corte das matrizes). Acerca do som em si, não há muito o que se falar: a qualidade é bastante similar ao LP americano, o que indica que tanto as matrizes americanas quanto as matrizes britânicas devem ter sido cortadas a partir de uma master idêntica, preparada pelo engenheiro Greg Calbi no estúdio Sterling Sound, em Nova York, onde o álbum foi masterizado.

No final das contas, fica a sensação de que o único trunfo do LP britânico de Is This It é ser a única edição em vinil a trazer a clássica capa da "mão na bunda" (detalhe: tal edição não é facilmente encontrável à venda, e só é reeditada vez ou outra pela Rough Trade Records - ou seja, tem permanecido mais tempo fora de catálogo do que sendo fabricada). O LP americano, apesar da capa diferente, teve tratamento muito mais cuidadoso do que o similar britânico, conforme veremos agora.

Edição Americana (RCA Records - Número de catálogo RCA 07863 68045-1)

O lançamento de Is This It nos Estados Unidos foi cercado de diversos problemas, que ocorreram por razões alheias à vontade da banda e da gravadora. Primeiramente, o lançamento do álbum, fixado inicialmente para o dia 25 de setembro de 2001 pela RCA, teve de ser adiado diante dos terríveis fatos que abalaram o país e o mundo dias antes: à luz dos atentados de 11 de setembro, não havia espaço para que fosse lançado um álbum tão ousado e tão crítico do espírito de Nova York como Is This It. Além do mais, que atenção se daria ao disco, quando toda a nação estava de luto? Adiar o lançamento deste disco, portanto, foi um mal necessário, e a RCA Records remarcou o evento para o mês seguinte (mais precisamente para o dia 9 de outubro, duas semanas depois da data original).

Tracklist das edições americana (esq.) e britânica (dir.). Como se vê, "NYC Cops" foi mantido em ambas as edições.
Outras duas questões merecem ser colocadas, em se tratando da edição americana de Is This It. A primeira é desdobramento direto dos eventos do 11 de setembro: após testemunharem os eficientes e corajosos esforços da Polícia de Nova York ao ajudar a população da cidade diante do horror do terrorismo, a própria banda (ao contrário do que muitos pensam ter sido uma decisão da gravadora RCA) decidiu remover do álbum a canção "New York City Cops", cheia de venenosas críticas à atuação policial na cidade, colocando em seu lugar "When It Started", preparada pela banda às pressas para dar lugar a "Cops" na listagem original de faixas. Tal alteração, entretanto, afetou apenas a edição americana em CD: "New York City Cops" permaneceu na versão em LP editada nos EUA, preservando-se, portanto, o tracklist original.

Gatefold aberto mostrando os membros da banda. Uma exclusividade da versão americana em LP de Is This It.
A segunda questão que merece destaque diz respeito à arte de capa de Is This It nos EUA. Diferente da sexy e provocadora arte estampada nas demais edições internacionais do disco, em terras norte-americanas o álbum ostentou, na capa, uma psicodélica imagem azul-e-amarela, que mais tarde revelou-se se tratar de uma fotografia microscópica de uma colisão de partículas subatômicas. A própria banda optou por essa capa para o lançamento do álbum nos EUA: foi antes uma opção estética do que uma imposição moral do conservador público norte-americano. Julian Casablancas, inclusive, chegou a expressar em diversas entrevistas o seu desejo de unificar, em caráter global, a arte de capa de Is This It para transformar o padrão norte-americano no padrão mundial (curiosamente, ao reeditar o álbum no Brasil em meados de 2005, a Sony/BMG resolveu "atender" ao desejo do vocalista, usando a arte de capa norte-americana ao invés da arte mundial, usada no lançamento nacional original do álbum em 2001).

Atendo-se à edição em LP lançada nos EUA, é notório que a RCA Records dispensou a ela um tratamento muito mais cuidadoso, em relação ao que fizera a Rough Trade Records no Reino Unido meses antes. Aqui o álbum veio em capa dupla ("gatefold") impressa em papelão laminado, trazendo informações um pouco mais detalhadas sobre a gravação e a produção do álbum. Abrindo-se a capa dupla, é possível observar as mesmas fotografias da banda disponíveis no encarte da edição em CD, bem como as mesmas notas escritas. Dentro da capa, o disco, embalado em um envelope de papel branco.

Mais uma vez conquistando vantagem em relação ao similar britânico, o vinil norte-americano de Is This It foi prensado em 180 gramas, trazendo no deadwax completa identificação do corte das matrizes: a inscrição "RJ STERLING" deixa claro que os acetatos para a confecção do vinil norte-americano foram preparados no próprio estúdio Sterling Sound (mesmo local onde o álbum foi masterizado) pelo competente engenheiro Ray Janos (engenheiro-sênior do corte de acetatos da casa). Certificação de origem das matrizes: outro ponto de vantagem para a edição norte-americana de Is This It (que aliás, nunca saiu de catálogo desde o seu lançamento em 2001: até hoje pode ser facilmente encontrada nas boas casas do ramo).

Fazendo esse "tira-teima" entre as duas edições, resta claro que recomendamos a aquisição do LP norte-americano do álbum, tanto pela melhor qualidade gráfica e técnica do material, como por razões econômicas (é mais fácil de ser encontrado, e custa mais barato que o vinil britânico - cuja aquisição só recomendamos aos fãs mais ardorosos do álbum e da banda). Para fechar o assunto com chave de ouro, preparamos um pequeno vídeo demonstrando um "test-drive" comparativo de ambas as edições de Is This It, com as faixas "The Modern Age" (edição britânica da Rough Trade Records) e "Hard to Explain" (edição americana da RCA Records):



SEGUNDO LP: ROOM ON FIRE (2003)

Dando seguimento à sua carreira após todo o sucesso obtido com Is This It, os Strokes entram novamente em estúdio no primeiro semestre de 2003, trabalhando outra vez com Gordon Raphael, o produtor que lhes ajudara a esculpir seu álbum de estréia dois anos antes. O resultado, gravado nos estúdios TMF, localizados no tradicional bairro boêmio de Greenwich Village, em Manhattan, seria lançado em outubro de 2003, nos formatos CD e LP, pela Rough Trade Records no Reino Unido e pela RCA Records nos Estados Unidos.


Room on Fire, como o próprio nome sugere, demonstra uma banda ainda em ferventes atitude e criatividade, como provam os excelentes singles "Reptilia", "12:51" e "The End Has No End", estabelecendo a banda de vez como uma das mais consagradas e respeitadas do rock pós-década de 90.

No geral, o que se observa é que a banda procurou manter as composições dentro do espírito urbano-moderno do primeiro disco; entretanto, dessa vez, com uma produção um pouco mais elaborada, que conferiu ao álbum uma sonoridade menos crua em relação a Is This It. E, assim como seu antecessor, Room on Fire foi recepcionado de forma bastante positiva tanto pelo público quanto pela crítica especializada.

Acerca das edições em vinil do álbum lançadas no Reino Unido e nos Estados Unidos, não há diferenças significativas na prensagem ou na arte de capa de um país em relação ao outro, como se verificou no álbum anterior da banda. Ambos os países seguiram um padrão único de lançamento do disco, de maneira que o que for dito aqui sobre a edição britânica (que é a que analisaremos - catálogo RTRADELP 130) se aplicará quase integralmente à edição americana de Room on Fire.


Primeiramente, vamos analisar o projeto gráfico da versão em LP de Room on Fire. Dessa vez, a Rough Trade Records tomou jeito e não cometeu as falhas verificadas na sua edição de Is This It: a capa continua simples, sem gatefold (mas esse é o padrão verificado em todas as edições em LP do álbum, então não é possível fazer disto um demérito), porém impressa em um papelão mais grosso e laminado. A arte de capa é aquela que todos conhecem. A contracapa, entretanto, é radicalmente diferente em relação à edição em CD: enquanto, no CD, a contracapa é um retrato dos membros da banda tendo ao fundo o que parece ser a cidade de Nova York, no LP temos uma espécie de gravura, mostrando um salão amadeirado repleto de tochas nas paredes, trazendo no topo a inscrição "Deutschlands Geisteshelden" (que significa, em português, "heróis espirituais da Alemanha"). A lista de faixas, mostrada de forma tímida na contracapa do CD, aqui aparece em letras garrafais. No rodapé da contracapa, todas as informações técnicas sobre o álbum são exibidas, ainda que em letras minúsculas.


O encarte que acompanha a edição em LP de Room on Fire (sim, meus caros: ao contrário de Is This It, aqui há um encarte) é bastante semelhante ao encarte encontrado na versão em CD: de um lado, fotografias estilizadas dos membros da banda, mostrados em molduras antigas, dispostas num fundo que lembra feixes de luz emitidos por galáxias; de outro, as letras das músicas (sim, letras de músicas!) dispostas sobre a mencionada fotografia da banda posando com Nova York ao fundo (e que, conforme dito, foi empregada na contracapa da versão em CD do álbum). Tal encarte, impresso em papel laminado e de excelente qualidade, funciona como uma espécie de envelope dentro do qual o LP é acomodado. Enfim, como se pode perceber, a Rough Trade Records não demorou para aprender a lição e acertou a mão, oferecendo material gráfico de excelente qualidade para este lançamento.


Com relação ao LP em si, a prensagem da Rough Trade Records, dessa vez, veio em 180 gramas, assim como as versões americanas dos álbuns dos Strokes. A qualidade de som, no geral, está excelente, porém ainda faltam informações mais robustas no deadwax, para que possamos identificar a origem da prensagem e saber detalhes sobre o corte das matrizes. De resto, nota 10 a esta prensagem que, a nosso ver, goza do mesmo respaldo da prensagem norte-americana do mesmo álbum, de maneira que recomendamos aos nossos queridos leitores a aquisição de uma ou de outra, pois possuem idêntica qualidade gráfica e sonora.

A seguir, um pequeno vídeo em que Room on Fire é tocado, trazendo as faixas "Reptilia", do lado A, e "The End Has No End", no lado B:



TERCEIRO LP: FIRST IMPRESSIONS OF EARTH (2006)


Em seu terceiro álbum de estúdio, o público e a crítica observaram os Strokes se despojarem do estilo e da temática que marcara seus dois primeiros lançamentos, em favor de uma abordagem musical mais arrojada e experimental e de letras mais introspectivas. First Impressions of Earth, gravado entre janeiro e maio de 2005 e lançado em janeiro do ano seguinte em CD e LP, teve sua produção atrasada devido à quase infrutífera reunião com o produtor dos álbuns anteriores da banda, Gordon Raphael, cujas técnicas demonstraram-se incompatíveis com as mudanças estilísticas desejadas pela banda para o álbum. Chamou-se à produção, para dar lugar a Raphael, o experiente David Kahne, conhecido pelo seu trabalho com artistas do quilate de Paul McCartney, Stevie Nicks e Tony Bennett, bem como pela sonoridade sofisticada e arrojada de suas produções.

Devido às profundas mudanças estilísticas da banda e à elevada sofisticação do som do álbum, que distoa de forma acentuada da sonoridade direta e lo-fi dos discos anteriores, First Impressions of Earth foi recebido de forma mais moderada pelo público e pela crítica e obteve reduzido sucesso comercial em comparação aos discos anteriores. Entretanto, o álbum ainda conseguiu garantir aos Strokes o primeiro "número um" de sua carreira, ao atingir o topo das paradas britânicas de álbuns na primeira semana de seu lançamento. Além disso, First Impressions of Earth é reconhecido por incluir duas das mais celebradas canções da carreira dos Strokes: "You Only Live Once" e "Juicebox", que foram lançadas como singles (e que não podem faltar nos shows).


A versão em LP do álbum (edição britânica da Rough Trade Records - catálogo RTRADELP 330) recebeu tratamento gráfico e acabamento espetaculares, como pouco se vê nos LPs fabricados nos dias de hoje. Tudo muito bonito, muito bem impresso e acabado! Nem de longe lembra o paupérrimo tratamento dispensado pelo selo britânico ao primeiro álbum da banda, Is This It. Vale lembrar que aqui, novamente, a Rough Trade Records segue o padrão norte-americano de prensagem, o que faz com que praticamente tudo que for dito aqui também se aplique ao LP do mesmo álbum prensado nos Estados Unidos. Dito isto, vamos à análise do conteúdo.

A capa veio em formato simples, sem gatefold, porém impressa e muito bem acabada em um papelão grosso especial, laminado e difícil de ser amassado. O disco em si vem acomodado em um envelope estilizado com arte semelhante à da capa, e confeccionado com o mesmo papelão grosso e laminado usado nela. Uma luxuosa maneira de acomodar um disco, não acham?


Mas a cereja do bolo fica mesmo por conta do encarte, um verdadeiro pôster gigante, dobrável em três partes iguais, que reproduz conteúdo idêntico ao do encarte incluso na edição em CD: num dos versos do pôster, retratos estilizados dos cinco membros da banda; no outro verso, um enorme painel mostrando as letras das músicas com as mesmas ilustrações que figuraram no encarte do CD. Tudo isso somado a um disco prensado em 180 gramas de vinil virgem, proporcionando excelente qualidade de som. No deadwax do LP britânico que avaliamos, finalmente apareceram informações relevantes: a inscrição "DOUG @ TOWNHOUSE" demonstra que o acetato que originou as matrizes para a confecção dos LPs da Rough Trade Records foi cortado pelo engenheiro Doug Shearer na tradicional casa Townhouse Mastering, em Londres. Tal acetato foi preparado usando as masters originais elaboradas pelo engenheiro veterano Bob Ludwig nos estúdios Gateway Mastering, em Portland, Maine, Estados Unidos.


Concluímos afirmando que a edição em LP de First Impressions of Earth não só merece nota 10, como também é um must-have fundamental para quem coleciona LPs e curte o som dos Strokes. Aproveitando o ensejo, segue vídeo demonstrando a sonoridade, em vinil, de "You Only Live Once" e de "Red Light", que, respectivamente, abrem e fecham o álbum:



QUARTO LP: ANGLES (2011)

Após o encerramento da turnê do álbum First Impressions of Earth, em 2007, iniciou-se um extenso período no qual os Strokes dedicaram-se às respectivas carreiras paralelas e outras atividades (Albert Hammond Jr. e Julian Casablancas lançaram álbuns solo; Fab Moretti montou o bem-sucedido grupo Little Joy; Nikolai Fraiture aventurou-se na banda Nickel Eye; Nick Valensi gastou seu tempo constituindo família e participando esporadicamente de todos os projetos retromencionados). Somente em 2009 a banda resolveu reunir-se novamente, para escrever o material que seria usado para dar à luz aquele que seria o seu quarto álbum de estúdio, em torno do qual emergiu, desde logo, uma elevada expectativa. Anunciou-se, então, o início das gravações, com a banda trabalhando inicialmente nos estúdios Avatar em Nova York junto ao produtor Joe Chiccarelli (The White Stripes, U2, Beck, Rufus Wainwright). Entretanto, o estilo reservado que Chiccarelli empregou na produção não agradou à banda, e o produto resultante das sessões acabou sendo descartado logo em seguida (à exceção da faixa "Life Is Simple in the Moonlight, que acabaria integrando a listagem de faixas do álbum).

Com isso, já não bastasse o atraso dos trabalhos, que só frustrava a banda e os fãs, a produção do álbum empacou, voltando quase à estaca zero. Os Strokes, então, tomaram a decisão de produzir sozinhos o disco, convocando o engenheiro Gus Oberg para auxiliá-los e gravando todo o restante do material que figuraria no disco na casa do guitarrista Albert Hammond Jr., devidamente convertida em estúdio para esta finalidade. O vocalista Julian Casablancas, entretanto, preferiu recluir-se dos demais integrantes da banda durante a produção, gravando posteriormente os vocais nos históricos Electric Lady Studios, em Nova York.

Enfim, depois de quase dois anos de produção turbulenta, troca de produtores e diversos outros problemas, é lançado, em 18 de março de 2011, o novo trabalho dos Strokes, entitulado Angles, tanto em CD quanto em LP. Trata-se de um álbum onde a banda abraçou a sonoridade do New Wave da década de 80, procurando fundir o som básico que permeou seus primeiros lançamentos às experimentações com instrumentos eletrônicos e sintetizadores (elementos que já haviam permeado Phrazes for the Young, álbum solo de Julian Casablancas, lançado em 2009). O resultado agradou aos fãs e à crítica, que receberam o álbum com maior entusiasmo em relação ao álbum anterior, First Impressions of Earth, garantindo aos Strokes a conquista de seu segundo "número um" (dessa vez, nas paradas australianas).


A edição em LP do álbum, como de praxe, saiu pela RCA Records nos Estados Unidos e pela Rough Trade Records no Reino Unido. A edição prensada nos Estados Unidos (catálogo RCA 88697 53472-1) traz uma capa dupla impressa em papelão fosco, trazendo no "gatefold" conteúdo bastante similar ao do encarte do CD: de um lado, fotografias dos membros da banda dispostas em um painel multicolorido; do outro lado, um painel estilizado em neon informando os detalhes da produção do álbum. A contracapa da edição em vinil, mostrando uma espécie de "continuação" da arte da capa da frente, difere radicalmente da contracapa da edição em CD, na qual os nomes das faixas estão dispostos em vários feixes coloridos. O ponto fraco fica pelo fato de que não foi incluso nenhum encarte dentro da capa: só o que se vê é o disco, embalado num envelope branco de papel e plástico. No geral, portanto, vê-se um retrocesso em relação à belíssima edição em vinil do álbum anterior da banda, First Impressions of Earth.


Em relação ao disco em si, aqui vale mencionar uma importante diferença entre as edições americana e britânica de Angles. Enquanto a prensagem americana foi feita usando 180 gramas de vinil preto comum, a prensagem britânica saiu em um belo vinil transparente. Para aqueles que gostam de colecionar discos e apreciam a sua estética, seria uma boa pedida adquirir as duas prensagens. Quanto ao deadwax do disco, a prensagem norte-americana traz grafada a inscrição "STERLING", demonstrando que o acetato que originou as matrizes para a prensagem foi cortado no próprio complexo Sterling Sound, em Nova York, onde foi feita a masterização final do álbum (dessa vez pelo famoso engenheiro de masterização George Marino, mais conhecido pelo seu trabalho de remasterização de álbuns clássicos).

Prensagem britânica do LP Angles. Empregou-se vinil transparente para sua confecção, ao invés do vinil preto comum usado na prensagem americana.
Segue adiante um vídeo onde são tocadas as faixas "Under Cover of Darkness" e "Taken for a Fool" direto do vinil norte-americano:


Bem, caríssimos leitores, chega ao fim mais esta matéria superespecial sobre vinis, preparada com muito carinho e dedicação pela Cantina para vocês. Não se sintam acanhados: sintam-se livres para divulgar, comentar, acrescentar e também criticar, afinal este humilde blog também é de vocês.


Abraços a todos e até a próxima!