domingo, 13 de novembro de 2011

The Strokes - Discografia em Vinil


Saudações analógicas a todos!

É com clima de felicidade e de satisfação que estamos de volta, trazendo para vocês as curiosidades e as peculiaridades mais fascinantes acerca dos nossos queridos bolachões. As dificuldades estão aí para serem superadas, e é por isso que a Cantina não pode parar!

Para hoje, caros leitores, a Cantina preparou um cardápio especial, completamente inspirado à moda nova-iorquina: nosso objetivo hoje será explorar em detalhes a discografia completa, em vinil, de uma das mais celebradas bandas das últimas décadas.

Trata-se de uma banda que, vindo a despontar dos porões de Manhattan no início da década de 2000, viria a mudar por completo os rumos da chamada "guitar music" nos anos seguintes, tendo como sua principal característica um som pautado pela releitura moderna e arrojada do protopunk e do rock de garagem do final da década de 60 e início da década de 70, exercendo influência maciça sobre 9 de cada 10 bandas de rock que surgiriam depois deles. Estamos falando de uma banda que, desde o seu primeiro álbum, provou inquestionável a sua importância, gravando seu nome de forma indelével na história da música pop: The Strokes.

O quinteto, formado por Julian Casablancas (vocais e principal compositor da banda), Nick Valensi (guitarra principal), Albert Hammond Jr. (guitarrista-base e filho do músico pop britânico Albert Hammond), Nikolai Fraiture (baixo) e o brasileiro Fab Moretti (bateria), sacudiu o mundo como um terremoto ao lançarem seu primeiro álbum, nos formatos CD e LP (Is This It, de 2001), obra seminal considerada pela crítica como a pedra fundamental do rock dos anos 2000, que acabou rendendo à banda fama e sucesso em escala global (perfeitamente traduzidos na pecha de "salvadores do rock", atribuída pela crítica à banda logo depois).


Em seguida a Is This It, a banda ainda presentearia o público com outros três celebrados álbuns, lançados tanto em formato CD como em LP (Room on Fire, de 2003; First Impressions of Earth, de 2005; e Angles - o mais recente, lançado este ano), e, junto deles, suas respectivas turnês mundiais, que deram ensejo a duas passagens da banda pelo Brasil (a primeira em outubro de 2005, por ocasião do Tim Festival; a segunda em novembro deste ano, por ocasião do festival Planeta Terra).

Apesar de toda a discografia da banda ter sido lançada no formato LP, infelizmente tais bolachões não foram lançados em caráter oficial no Brasil, de maneira que somente através da importação é possível obtê-los. Entretanto, aos que desejam conhecer as suas peculiaridades, segurem-se, pois a partir de agora iremos dissecar por completo todos os Long-Plays lançados até agora pela banda. Vamos nessa?


PRIMEIRO LP: IS THIS IT (2001)

Is This It, dos Strokes, aqui mostrado em sua capa norte-americana (esq.) e em sua capa britânica (dir.)
Obra-prima que viria a redefinir os rumos do rock na década de 2000, Is This It foi gravado no período compreendido entre os meses de março e abril de 2001 no estúdio Transporterraum, que funcionava no porão de uma casa no Lower East Side de Manhattan, tendo sido lançado em datas distintas no Reino Unido (agosto daquele ano) e nos Estados Unidos (dois meses depois, em outubro).

Gravado digitalmente, utilizando técnicas extremamente simples (que incluíam, por exemplo, a distribuição estilo anos 60 dos instrumentos nos canais - uma guitarra no falante direito, outra no esquerdo, voz, baixo e bateria no centro - e a mixagem imediata das faixas após a gravação) e usando um mínimo de camadas e overdubs (opções que serviram como uma luva à proposta lo-fi de Is This It), o álbum surpreende até hoje pela elevada qualidade melódica das composições, pelo carisma e pela rítmica contida nas performances e pela postura quase punk, direta e sem rodeios, complementada por letras que parecem falar diretamente ao coração e à alma da juventude urbana, abordando seus anseios e suas necessidades com ousadia e franqueza poucas vezes vistas. Tais ingredientes transformaram o disco num fenômeno entre o público e num sucesso quase unânime de crítica, de maneira que até hoje, dez anos após o seu lançamento, reconhece-se sua fundamental importância como um dos pináculos da música pop do século XXI - levando-o a figurar, a título de exemplo, no primeiro lugar da lista dos "100 maiores álbuns da década de 2000" elaborada pela lista da New Musical Express (NME), bem como a ocupar sempre as primeiras colocações de listas similares.

Edição Britânica (Rough Trade Records - Número de catálogo RTRADELP 030):

Contracapas das edições americana (esq.) e britânica (dir.)
No Reino Unido, nos meses que antecederam o lançamento de Is This It, já estava sendo alimentado um buzz frenético em cima da banda (cortesia, sobretudo, da revista NME, que não perdia as oportunidades de rasgar elogios ao grupo quando podia). A enorme ansiedade em torno do álbum, que ganhou força com a arrebatadora turnê da banda pelo Reino Unido, entre os meses de junho e julho de 2001, e sua positiva repercussão, aliada à crescente base de fãs que surgia, fez com que, no mês seguinte (mais precisamente no dia 27 de agosto), a Rough Trade Records (selo independente que, até hoje, lança os discos da banda na terra da Rainha) pusesse Is This It no mercado, nos formatos CD e LP.

Para o lançamento no Reino Unido (bem como para os demais lançamentos mundiais imediatamente subsequentes - inclusive no Brasil), optou-se pelo emprego de uma arte de capa que refletisse toda a ousadia que o álbum continha, hoje considerada um clássico: num plano de fundo branco, os quadris nus de uma mulher, com uma mão vestindo uma luva de couro sugestivamente repousada neles. Tal capa foi empregada em toda a sua glória não apenas no CD britânico, mas também na versão em LP. A contracapa trazia uma fotografia em preto-e-branco da banda, posando com altivez e orgulho em uma rua aberta e sem tráfego, como se estivessem preparados para dominar o que estivesse em sua frente.

Com relação ao conteúdo da edição britânica em LP de Is This It, aqui valem ser tecidas algumas críticas. É inaceitável que, justamente no Reino Unido, um álbum desse quilate (ainda mais tendo em conta as expectativas do público britânico sobre o disco) tenha ganhado um tratamento em LP tão pobre de qualidade e de conteúdo. A capa simples, impressa em papelão fosco, com pouquíssimas informações técnicas sobre o disco, bem como a total ausência do simpático encarte da edição em CD (que traz fotos da banda e da equipe de produção do disco) pesam sobremaneira na qualidade final do material. Abrindo a capa do LP britânico, tudo que você encontrará é o próprio disco, conservado em um envelope de papel e plástico. Nada mais.

Selos das edições americana (esq.) e britânica (dir.)
O disco, aliás, não foi prensado em vinil de 180 gramas, ao contrário da edição americana do disco (como veremos adiante), o que desvaloriza ainda mais o LP britânico de Is This It. No deadwax (borda interna do disco próxima ao selo, onde se encontram informações sobre a masterização), nenhuma informação importante, a não ser o número de catálogo do álbum (o que dificulta na hora de saber a origem da prensagem e o responsável pelo corte das matrizes). Acerca do som em si, não há muito o que se falar: a qualidade é bastante similar ao LP americano, o que indica que tanto as matrizes americanas quanto as matrizes britânicas devem ter sido cortadas a partir de uma master idêntica, preparada pelo engenheiro Greg Calbi no estúdio Sterling Sound, em Nova York, onde o álbum foi masterizado.

No final das contas, fica a sensação de que o único trunfo do LP britânico de Is This It é ser a única edição em vinil a trazer a clássica capa da "mão na bunda" (detalhe: tal edição não é facilmente encontrável à venda, e só é reeditada vez ou outra pela Rough Trade Records - ou seja, tem permanecido mais tempo fora de catálogo do que sendo fabricada). O LP americano, apesar da capa diferente, teve tratamento muito mais cuidadoso do que o similar britânico, conforme veremos agora.

Edição Americana (RCA Records - Número de catálogo RCA 07863 68045-1)

O lançamento de Is This It nos Estados Unidos foi cercado de diversos problemas, que ocorreram por razões alheias à vontade da banda e da gravadora. Primeiramente, o lançamento do álbum, fixado inicialmente para o dia 25 de setembro de 2001 pela RCA, teve de ser adiado diante dos terríveis fatos que abalaram o país e o mundo dias antes: à luz dos atentados de 11 de setembro, não havia espaço para que fosse lançado um álbum tão ousado e tão crítico do espírito de Nova York como Is This It. Além do mais, que atenção se daria ao disco, quando toda a nação estava de luto? Adiar o lançamento deste disco, portanto, foi um mal necessário, e a RCA Records remarcou o evento para o mês seguinte (mais precisamente para o dia 9 de outubro, duas semanas depois da data original).

Tracklist das edições americana (esq.) e britânica (dir.). Como se vê, "NYC Cops" foi mantido em ambas as edições.
Outras duas questões merecem ser colocadas, em se tratando da edição americana de Is This It. A primeira é desdobramento direto dos eventos do 11 de setembro: após testemunharem os eficientes e corajosos esforços da Polícia de Nova York ao ajudar a população da cidade diante do horror do terrorismo, a própria banda (ao contrário do que muitos pensam ter sido uma decisão da gravadora RCA) decidiu remover do álbum a canção "New York City Cops", cheia de venenosas críticas à atuação policial na cidade, colocando em seu lugar "When It Started", preparada pela banda às pressas para dar lugar a "Cops" na listagem original de faixas. Tal alteração, entretanto, afetou apenas a edição americana em CD: "New York City Cops" permaneceu na versão em LP editada nos EUA, preservando-se, portanto, o tracklist original.

Gatefold aberto mostrando os membros da banda. Uma exclusividade da versão americana em LP de Is This It.
A segunda questão que merece destaque diz respeito à arte de capa de Is This It nos EUA. Diferente da sexy e provocadora arte estampada nas demais edições internacionais do disco, em terras norte-americanas o álbum ostentou, na capa, uma psicodélica imagem azul-e-amarela, que mais tarde revelou-se se tratar de uma fotografia microscópica de uma colisão de partículas subatômicas. A própria banda optou por essa capa para o lançamento do álbum nos EUA: foi antes uma opção estética do que uma imposição moral do conservador público norte-americano. Julian Casablancas, inclusive, chegou a expressar em diversas entrevistas o seu desejo de unificar, em caráter global, a arte de capa de Is This It para transformar o padrão norte-americano no padrão mundial (curiosamente, ao reeditar o álbum no Brasil em meados de 2005, a Sony/BMG resolveu "atender" ao desejo do vocalista, usando a arte de capa norte-americana ao invés da arte mundial, usada no lançamento nacional original do álbum em 2001).

Atendo-se à edição em LP lançada nos EUA, é notório que a RCA Records dispensou a ela um tratamento muito mais cuidadoso, em relação ao que fizera a Rough Trade Records no Reino Unido meses antes. Aqui o álbum veio em capa dupla ("gatefold") impressa em papelão laminado, trazendo informações um pouco mais detalhadas sobre a gravação e a produção do álbum. Abrindo-se a capa dupla, é possível observar as mesmas fotografias da banda disponíveis no encarte da edição em CD, bem como as mesmas notas escritas. Dentro da capa, o disco, embalado em um envelope de papel branco.

Mais uma vez conquistando vantagem em relação ao similar britânico, o vinil norte-americano de Is This It foi prensado em 180 gramas, trazendo no deadwax completa identificação do corte das matrizes: a inscrição "RJ STERLING" deixa claro que os acetatos para a confecção do vinil norte-americano foram preparados no próprio estúdio Sterling Sound (mesmo local onde o álbum foi masterizado) pelo competente engenheiro Ray Janos (engenheiro-sênior do corte de acetatos da casa). Certificação de origem das matrizes: outro ponto de vantagem para a edição norte-americana de Is This It (que aliás, nunca saiu de catálogo desde o seu lançamento em 2001: até hoje pode ser facilmente encontrada nas boas casas do ramo).

Fazendo esse "tira-teima" entre as duas edições, resta claro que recomendamos a aquisição do LP norte-americano do álbum, tanto pela melhor qualidade gráfica e técnica do material, como por razões econômicas (é mais fácil de ser encontrado, e custa mais barato que o vinil britânico - cuja aquisição só recomendamos aos fãs mais ardorosos do álbum e da banda). Para fechar o assunto com chave de ouro, preparamos um pequeno vídeo demonstrando um "test-drive" comparativo de ambas as edições de Is This It, com as faixas "The Modern Age" (edição britânica da Rough Trade Records) e "Hard to Explain" (edição americana da RCA Records):



SEGUNDO LP: ROOM ON FIRE (2003)

Dando seguimento à sua carreira após todo o sucesso obtido com Is This It, os Strokes entram novamente em estúdio no primeiro semestre de 2003, trabalhando outra vez com Gordon Raphael, o produtor que lhes ajudara a esculpir seu álbum de estréia dois anos antes. O resultado, gravado nos estúdios TMF, localizados no tradicional bairro boêmio de Greenwich Village, em Manhattan, seria lançado em outubro de 2003, nos formatos CD e LP, pela Rough Trade Records no Reino Unido e pela RCA Records nos Estados Unidos.


Room on Fire, como o próprio nome sugere, demonstra uma banda ainda em ferventes atitude e criatividade, como provam os excelentes singles "Reptilia", "12:51" e "The End Has No End", estabelecendo a banda de vez como uma das mais consagradas e respeitadas do rock pós-década de 90.

No geral, o que se observa é que a banda procurou manter as composições dentro do espírito urbano-moderno do primeiro disco; entretanto, dessa vez, com uma produção um pouco mais elaborada, que conferiu ao álbum uma sonoridade menos crua em relação a Is This It. E, assim como seu antecessor, Room on Fire foi recepcionado de forma bastante positiva tanto pelo público quanto pela crítica especializada.

Acerca das edições em vinil do álbum lançadas no Reino Unido e nos Estados Unidos, não há diferenças significativas na prensagem ou na arte de capa de um país em relação ao outro, como se verificou no álbum anterior da banda. Ambos os países seguiram um padrão único de lançamento do disco, de maneira que o que for dito aqui sobre a edição britânica (que é a que analisaremos - catálogo RTRADELP 130) se aplicará quase integralmente à edição americana de Room on Fire.


Primeiramente, vamos analisar o projeto gráfico da versão em LP de Room on Fire. Dessa vez, a Rough Trade Records tomou jeito e não cometeu as falhas verificadas na sua edição de Is This It: a capa continua simples, sem gatefold (mas esse é o padrão verificado em todas as edições em LP do álbum, então não é possível fazer disto um demérito), porém impressa em um papelão mais grosso e laminado. A arte de capa é aquela que todos conhecem. A contracapa, entretanto, é radicalmente diferente em relação à edição em CD: enquanto, no CD, a contracapa é um retrato dos membros da banda tendo ao fundo o que parece ser a cidade de Nova York, no LP temos uma espécie de gravura, mostrando um salão amadeirado repleto de tochas nas paredes, trazendo no topo a inscrição "Deutschlands Geisteshelden" (que significa, em português, "heróis espirituais da Alemanha"). A lista de faixas, mostrada de forma tímida na contracapa do CD, aqui aparece em letras garrafais. No rodapé da contracapa, todas as informações técnicas sobre o álbum são exibidas, ainda que em letras minúsculas.


O encarte que acompanha a edição em LP de Room on Fire (sim, meus caros: ao contrário de Is This It, aqui há um encarte) é bastante semelhante ao encarte encontrado na versão em CD: de um lado, fotografias estilizadas dos membros da banda, mostrados em molduras antigas, dispostas num fundo que lembra feixes de luz emitidos por galáxias; de outro, as letras das músicas (sim, letras de músicas!) dispostas sobre a mencionada fotografia da banda posando com Nova York ao fundo (e que, conforme dito, foi empregada na contracapa da versão em CD do álbum). Tal encarte, impresso em papel laminado e de excelente qualidade, funciona como uma espécie de envelope dentro do qual o LP é acomodado. Enfim, como se pode perceber, a Rough Trade Records não demorou para aprender a lição e acertou a mão, oferecendo material gráfico de excelente qualidade para este lançamento.


Com relação ao LP em si, a prensagem da Rough Trade Records, dessa vez, veio em 180 gramas, assim como as versões americanas dos álbuns dos Strokes. A qualidade de som, no geral, está excelente, porém ainda faltam informações mais robustas no deadwax, para que possamos identificar a origem da prensagem e saber detalhes sobre o corte das matrizes. De resto, nota 10 a esta prensagem que, a nosso ver, goza do mesmo respaldo da prensagem norte-americana do mesmo álbum, de maneira que recomendamos aos nossos queridos leitores a aquisição de uma ou de outra, pois possuem idêntica qualidade gráfica e sonora.

A seguir, um pequeno vídeo em que Room on Fire é tocado, trazendo as faixas "Reptilia", do lado A, e "The End Has No End", no lado B:



TERCEIRO LP: FIRST IMPRESSIONS OF EARTH (2006)


Em seu terceiro álbum de estúdio, o público e a crítica observaram os Strokes se despojarem do estilo e da temática que marcara seus dois primeiros lançamentos, em favor de uma abordagem musical mais arrojada e experimental e de letras mais introspectivas. First Impressions of Earth, gravado entre janeiro e maio de 2005 e lançado em janeiro do ano seguinte em CD e LP, teve sua produção atrasada devido à quase infrutífera reunião com o produtor dos álbuns anteriores da banda, Gordon Raphael, cujas técnicas demonstraram-se incompatíveis com as mudanças estilísticas desejadas pela banda para o álbum. Chamou-se à produção, para dar lugar a Raphael, o experiente David Kahne, conhecido pelo seu trabalho com artistas do quilate de Paul McCartney, Stevie Nicks e Tony Bennett, bem como pela sonoridade sofisticada e arrojada de suas produções.

Devido às profundas mudanças estilísticas da banda e à elevada sofisticação do som do álbum, que distoa de forma acentuada da sonoridade direta e lo-fi dos discos anteriores, First Impressions of Earth foi recebido de forma mais moderada pelo público e pela crítica e obteve reduzido sucesso comercial em comparação aos discos anteriores. Entretanto, o álbum ainda conseguiu garantir aos Strokes o primeiro "número um" de sua carreira, ao atingir o topo das paradas britânicas de álbuns na primeira semana de seu lançamento. Além disso, First Impressions of Earth é reconhecido por incluir duas das mais celebradas canções da carreira dos Strokes: "You Only Live Once" e "Juicebox", que foram lançadas como singles (e que não podem faltar nos shows).


A versão em LP do álbum (edição britânica da Rough Trade Records - catálogo RTRADELP 330) recebeu tratamento gráfico e acabamento espetaculares, como pouco se vê nos LPs fabricados nos dias de hoje. Tudo muito bonito, muito bem impresso e acabado! Nem de longe lembra o paupérrimo tratamento dispensado pelo selo britânico ao primeiro álbum da banda, Is This It. Vale lembrar que aqui, novamente, a Rough Trade Records segue o padrão norte-americano de prensagem, o que faz com que praticamente tudo que for dito aqui também se aplique ao LP do mesmo álbum prensado nos Estados Unidos. Dito isto, vamos à análise do conteúdo.

A capa veio em formato simples, sem gatefold, porém impressa e muito bem acabada em um papelão grosso especial, laminado e difícil de ser amassado. O disco em si vem acomodado em um envelope estilizado com arte semelhante à da capa, e confeccionado com o mesmo papelão grosso e laminado usado nela. Uma luxuosa maneira de acomodar um disco, não acham?


Mas a cereja do bolo fica mesmo por conta do encarte, um verdadeiro pôster gigante, dobrável em três partes iguais, que reproduz conteúdo idêntico ao do encarte incluso na edição em CD: num dos versos do pôster, retratos estilizados dos cinco membros da banda; no outro verso, um enorme painel mostrando as letras das músicas com as mesmas ilustrações que figuraram no encarte do CD. Tudo isso somado a um disco prensado em 180 gramas de vinil virgem, proporcionando excelente qualidade de som. No deadwax do LP britânico que avaliamos, finalmente apareceram informações relevantes: a inscrição "DOUG @ TOWNHOUSE" demonstra que o acetato que originou as matrizes para a confecção dos LPs da Rough Trade Records foi cortado pelo engenheiro Doug Shearer na tradicional casa Townhouse Mastering, em Londres. Tal acetato foi preparado usando as masters originais elaboradas pelo engenheiro veterano Bob Ludwig nos estúdios Gateway Mastering, em Portland, Maine, Estados Unidos.


Concluímos afirmando que a edição em LP de First Impressions of Earth não só merece nota 10, como também é um must-have fundamental para quem coleciona LPs e curte o som dos Strokes. Aproveitando o ensejo, segue vídeo demonstrando a sonoridade, em vinil, de "You Only Live Once" e de "Red Light", que, respectivamente, abrem e fecham o álbum:



QUARTO LP: ANGLES (2011)

Após o encerramento da turnê do álbum First Impressions of Earth, em 2007, iniciou-se um extenso período no qual os Strokes dedicaram-se às respectivas carreiras paralelas e outras atividades (Albert Hammond Jr. e Julian Casablancas lançaram álbuns solo; Fab Moretti montou o bem-sucedido grupo Little Joy; Nikolai Fraiture aventurou-se na banda Nickel Eye; Nick Valensi gastou seu tempo constituindo família e participando esporadicamente de todos os projetos retromencionados). Somente em 2009 a banda resolveu reunir-se novamente, para escrever o material que seria usado para dar à luz aquele que seria o seu quarto álbum de estúdio, em torno do qual emergiu, desde logo, uma elevada expectativa. Anunciou-se, então, o início das gravações, com a banda trabalhando inicialmente nos estúdios Avatar em Nova York junto ao produtor Joe Chiccarelli (The White Stripes, U2, Beck, Rufus Wainwright). Entretanto, o estilo reservado que Chiccarelli empregou na produção não agradou à banda, e o produto resultante das sessões acabou sendo descartado logo em seguida (à exceção da faixa "Life Is Simple in the Moonlight, que acabaria integrando a listagem de faixas do álbum).

Com isso, já não bastasse o atraso dos trabalhos, que só frustrava a banda e os fãs, a produção do álbum empacou, voltando quase à estaca zero. Os Strokes, então, tomaram a decisão de produzir sozinhos o disco, convocando o engenheiro Gus Oberg para auxiliá-los e gravando todo o restante do material que figuraria no disco na casa do guitarrista Albert Hammond Jr., devidamente convertida em estúdio para esta finalidade. O vocalista Julian Casablancas, entretanto, preferiu recluir-se dos demais integrantes da banda durante a produção, gravando posteriormente os vocais nos históricos Electric Lady Studios, em Nova York.

Enfim, depois de quase dois anos de produção turbulenta, troca de produtores e diversos outros problemas, é lançado, em 18 de março de 2011, o novo trabalho dos Strokes, entitulado Angles, tanto em CD quanto em LP. Trata-se de um álbum onde a banda abraçou a sonoridade do New Wave da década de 80, procurando fundir o som básico que permeou seus primeiros lançamentos às experimentações com instrumentos eletrônicos e sintetizadores (elementos que já haviam permeado Phrazes for the Young, álbum solo de Julian Casablancas, lançado em 2009). O resultado agradou aos fãs e à crítica, que receberam o álbum com maior entusiasmo em relação ao álbum anterior, First Impressions of Earth, garantindo aos Strokes a conquista de seu segundo "número um" (dessa vez, nas paradas australianas).


A edição em LP do álbum, como de praxe, saiu pela RCA Records nos Estados Unidos e pela Rough Trade Records no Reino Unido. A edição prensada nos Estados Unidos (catálogo RCA 88697 53472-1) traz uma capa dupla impressa em papelão fosco, trazendo no "gatefold" conteúdo bastante similar ao do encarte do CD: de um lado, fotografias dos membros da banda dispostas em um painel multicolorido; do outro lado, um painel estilizado em neon informando os detalhes da produção do álbum. A contracapa da edição em vinil, mostrando uma espécie de "continuação" da arte da capa da frente, difere radicalmente da contracapa da edição em CD, na qual os nomes das faixas estão dispostos em vários feixes coloridos. O ponto fraco fica pelo fato de que não foi incluso nenhum encarte dentro da capa: só o que se vê é o disco, embalado num envelope branco de papel e plástico. No geral, portanto, vê-se um retrocesso em relação à belíssima edição em vinil do álbum anterior da banda, First Impressions of Earth.


Em relação ao disco em si, aqui vale mencionar uma importante diferença entre as edições americana e britânica de Angles. Enquanto a prensagem americana foi feita usando 180 gramas de vinil preto comum, a prensagem britânica saiu em um belo vinil transparente. Para aqueles que gostam de colecionar discos e apreciam a sua estética, seria uma boa pedida adquirir as duas prensagens. Quanto ao deadwax do disco, a prensagem norte-americana traz grafada a inscrição "STERLING", demonstrando que o acetato que originou as matrizes para a prensagem foi cortado no próprio complexo Sterling Sound, em Nova York, onde foi feita a masterização final do álbum (dessa vez pelo famoso engenheiro de masterização George Marino, mais conhecido pelo seu trabalho de remasterização de álbuns clássicos).

Prensagem britânica do LP Angles. Empregou-se vinil transparente para sua confecção, ao invés do vinil preto comum usado na prensagem americana.
Segue adiante um vídeo onde são tocadas as faixas "Under Cover of Darkness" e "Taken for a Fool" direto do vinil norte-americano:


Bem, caríssimos leitores, chega ao fim mais esta matéria superespecial sobre vinis, preparada com muito carinho e dedicação pela Cantina para vocês. Não se sintam acanhados: sintam-se livres para divulgar, comentar, acrescentar e também criticar, afinal este humilde blog também é de vocês.


Abraços a todos e até a próxima!

domingo, 2 de outubro de 2011

Discografia Brasileira dos Beatles


Saudações analógicas a todos!

Em primeiro lugar, gostaríamos de pedir humildes desculpas pela demora na atualização deste singelo blog sobre discos. Tentamos fazer com que a Cantina trabalhe a todo vapor para trazer a você o que há de melhor no mundo dos bolachões, mas mesmo assim nos deparamos com adversidades que exigem paciência para serem contornadas. Vamos em frente, que o trabalho não pode parar!

E é justamente em clima de alegria e dedicação que estamos de volta, firmes e fortes, desta vez para trazer a lume considerações sobre a discografia, editada no Brasil, de uma certa banda, pouco conhecida, formada por quatro rapazes dos quais vocês provavelmente nunca ouviu falar antes. Rá!


Ironias à parte, os Beatles (é como são conhecidos por aí), em pouquíssimo tempo de carreira juntos (estamos falando de apenas 7 anos entre as primeiras e as últimas gravações como banda), constituíram um riquíssimo legado gravado, no qual são facilmente perceptíveis, até pelos ouvidos mais leigos, uma ampla gama de elevadíssimos avanços técnicos e artísticos.

Como pouquíssimas bandas o fizeram, os Beatles se serviram ao máximo do contexto histórico em que estiveram em atividade. Não apenas se serviram do contexto: também serviram a ele, interagindo com ele, transformando-o e deixando marcas que gerações e mais gerações, mesmo depois de 40 anos após o encerramento de suas atividades, descobrem, redescobrem, admiram e readmiram. O conceito de "banda autossuficiente" (responsável integralmente pela composição e execução instrumental de seu próprio repertório) em substituição aos grupos vocais dos anos 50; a progressiva popularização do formato Long-Play em detrimento dos compactos 45 RPM (o que conferiu às bandas a possibilidade de trabalhar preferencialmente nos álbuns, dando-lhes tratamento de obra artística dotada de unidade e conceito próprios); o Mono dando lugar ao Stereo como formato de som preferencial (o que possibilitou às bandas explorarem cada vez mais os recursos que os estúdios de gravação tinham a oferecer para aprimorar a sonoridade dos discos): de tudo isso os Beatles usufruiram ao máximo, em prol não apenas de sua própria obra musical, mas também de toda a indústria fonográfica.


Em decorrência de tantos avanços e, acima de tudo, de seus elevadíssimos talento e perspicácia artísticos, os Beatles popularizaram-se no mundo com espantosa velocidade, e suas gravações foram editadas em diversos países, inclusive no Brasil.  Porém, em nosso país, a discografia dos rapazes, editada pelo selo Odeon (subsidiário da EMI no Brasil, que mais tarde se chamaria EMI-Odeon e, posteriormente, EMI Music Brasil), recebeu, de início, tratamento diferenciado em relação à Parlophone Records (editora da discografia da banda no Reino Unido) e à Capitol Records (responsável pelo catálogo norte-americano dos Beatles). Com isso, durante alguns anos, a discografia dos Beatles editada em terras brasileiras constituiu-se de álbuns completamente distintos dos americanos e britânicos, com arte de capa, títulos e listagem de faixas exclusivamente direcionada ao mercado fonográfico brasileiro. No avançar das décadas, com as consequentes padronizações mundiais pelas quais passaria o catálogo da banda, tais "versões brasileiras" acabariam sendo progressivamente substituídas pelas versões originais editadas no Reino Unido, ficando excluídas do catálogo da Odeon e tornando-se itens de colecionador.

Mas, quais são esses discos? Quando foram lançados, e qual o seu conteúdo? É justamente nesse território que adentraremos, a partir de agora.


Cronologicamente, vamos nos situar, primeiramente, nos idos de 1964. A essa época, os Beatles já haviam lançado, em sua terra natal, dois álbuns completos de estúdio: Please Please Me e With the Beatles, nos meses de março e novembro de 1963, respectivamente. Nos Estados Unidos, da mesma forma, já haviam sido lançados dois álbuns completos do quarteto, ambos em janeiro de 1964: Introducing... The Beatles (lançado pelo selo Vee-Jay Records e não reputado, por alguns críticos, como lançamento oficial da banda), e Meet the Beatles! (esse sim, reputado como o primeiro LP oficial da banda lançado em território norte-americano, pela Capitol Records). 


No Brasil, justamente em março de 1964, aproximadamente quatro meses após os primeiros lançamentos britânicos, viria a lume o primeiro Long-Play oficial da banda. Sábia e profeticamente entitulado Beatlemania (expressão cunhada no Reino Unido para designar o frenético aumento de popularidade da banda), tal disco (número de catálogo MOFB 274) consiste em verdadeira "versão alternativa" do álbum britânico With the Beatles (do qual pegou emprestada, inclusive, a arte de capa). Das doze faixas que compõem Beatlemania, nove figuraram originalmente em With the Beatles. As outras três faixas que completam o tracklist são "I Want to Hold Your Hand", "She Loves You" e "I Saw Her Standing There", três clássicos absolutos que, à época, formavam a tríade de hits principal responsável pela estrondosa popularidade do grupo. A listagem completa de faixas segue adiante:
Lado Um: I Want To Hold Your Hand / It Won't Be Long / All I've Got To Do / Little Child / Don't Bother Me / Please Mr. Postman
Lado Dois: She Loves You / Roll Over Beethoven / You Really Got A Hold On Me / I Wanna Be Your Man / Devil In Her Heart / I Saw Her Standing There


No mês seguinte, em abril de 1964, os Estados Unidos observariam o lançamento, em seu território, de mais uma compilação oficial de canções dos rapazes, entitulada The Beatles' Second Album (lançada pela Capitol Records), enquanto o Reino Unido, em junho do mesmo ano, seria presenteado com o lançamento do Extended-Play Long Tall Sally, tendo como carro-chefe a releitura, gravada pela banda, do clássico de Little Richard de mesmo nome. E finalmente, no mês seguinte, ambos os países seriam surpreendidos pelo álbum A Hard Day's Night, considerado um dos mais geniais e bem-sucedidos discos da banda, e um dos melhores conjuntos de faixas de toda a sua carreira.


Entretanto, em nosso país, no referido mês de julho de 1964 (e já demonstrando o considerável atraso com o qual a obra dos Beatles chegava por aqui), ainda testemunhávamos o lançamento do segundo LP brasileiro oficial dos Beatles, batizado de The Beatles Again (número de catálogo MOFB 287). Em contraste com Beatlemania (verdadeira versão alternativa do segundo álbum britânico dos rapazes, With the Beatles), Again dá preferência às faixas de Please Please Me, primeiro álbum britânico da banda (e lançado há quase um ano e meio), porém apresentando um repertório mais variado: seis de suas doze faixas figuraram originalmente em Please Please Me, enquanto as demais consistiam em faixas de With the Beatles excluídas de Beatlemania ("Hold Me Tight" e o clássico absoluto "All My Loving"), canções que figuraram no norte-americano Second Album ("Money" e "I'll Get You"), e os sucessos "From Me to You" (anteriormente lançado no Brasil em formato compacto) e "Can't Buy Me Love" (já adiantando aos brasileiros um gostinho do ainda não lançado A Hard Day's Night). Eis as faixas:
Lado Um: Please Please Me / Boys / Twist And Shout / From Me To You / Baby It's You / I'll Get You
Lado Dois: Hold Me Tight / Money (That's What I Want) / Do You Want To Know A Secret / All My Loving / Love Me Do / Can't Buy Me Love


Nos dias e meses que se seguiram a partir de julho de 1964, nos Estados Unidos, onde qualquer coisa relacionada aos Beatles vendia como água (especialmente os discos), a Capitol Records presenteou o público com mais três Long-Plays do grupo: Something New (lançado apenas 10 dias após o lançamento de A Hard Day's Night no Reino Unido, e trazendo quase todas as faixas que neste figuraram - nos Estados Unidos, o álbum entitulado A Hard Day's Night fora lançado pelo selo United Artists, daí a necessidade de o selo Capitol reeditar e relançar suas faixas em um álbum próprio), The Beatles' Story (disco "caça-níqueis" composto de diversos excertos de entrevistas e performances ao vivo da banda, lançado em novembro de 1964), e Beatles '65 (lançado em 15 de dezembro de 1964, trazendo oito das 14 faixas de Beatles for Sale - quarto álbum da discografia britânica do quarteto, lançado dias antes no Reino Unido).


Em nosso país, somente no mês seguinte, em janeiro de 1965 (pasmem - com absurdos seis meses de atraso em relação a Reino Unido e Estados Unidos) a Odeon resolveu lançar a versão brasileira do álbum A Hard Day's Night. Em relação à lista de faixas, repetiu-se o repertório da versão original britânica, inclusive na mesma ordem. A grande inovação nacional ficou por conta da arte de capa, assemelhada à da edição britânica (usando, porém, tons vermelhos ao invés de azuis) e trazendo todo o conteúdo textual traduzido do inglês para o português - inclusive o título do álbum: Os Reis do Iê-Iê-Iê (MOFB 299), que é o título sob o qual o filme A Hard Day's Night chegara aos cinemas nacionais. Curiosamente, mesmo após a padronização mundial da discografia dos Beatles, a edição brasileira em vinil deste álbum permaneceria sendo reprensada com esse título e com essa arte de capa até se encerrar a produção de LPs dos Beatles no Brasil. A primeira edição em CD do álbum, lançada no país em meados dos anos 80, trouxe a arte de capa original britânica, e conteúdo textual em inglês.


Nos meses que se seguiram a janeiro de 1965, em sua terra natal, o estrondoso sucesso dos Beatles só crescia à medida em que novos compactos eram lançados, destacando-se, nesse período, o lançamento do clássico hit "Ticket to Ride". Nos Estados Unidos, buscando capitalizar ainda mais o sucesso da banda, a Capitol Records resolve lançar, em março, a coletânea The Early Beatles, que nada mais era do que uma versão reduzida do álbum de estreia Please Please Me (e uma resposta tardia ao lançamento não-oficial Introducing... The Beatles pelo selo Vee-Jay Records um ano e três meses antes).


No Brasil, no mês seguinte, em abril de 1965, a gravadora Odeon lança o quarto Long-Play brasileiro oficial da banda, entitulado The Beatles (MOFB 317). Trata-se de mera versão reduzida de Beatles for Sale, lançada com quatro meses de atraso em relação ao LP britânico e trazendo apenas 12 das 14 seleções que nele figuraram, dispostas de forma diferente. À relação de faixas:
Lado Um: Rock And Roll Music / Kansas City / I'm A Loser / No Reply / Mr. Moonlight / I'll Follow The Sun
Lado Dois: Eight Days A Week / Honey Don't / What You're Doing / Everybody's Trying To Be My Baby / I Don't Want To Spoil The Party / Words Of Love


Em junho de 1965, a Capitol Records inundava ainda mais as prateleiras norte-americanas com discos dos Beatles: era lançada a coletânea Beatles VI (enquanto Brasil e Grã-Bretanha ainda sentiam o gosto do quarto lançamento dos rapazes, este já era o sétimo álbum dos Beatles lançado pela Capitol nos Estados Unidos), que trazia, em sua maioria, seleções que figuraram originalmente no britânico Beatles for Sale.

Posteriormente, em agosto do mesmo ano, o mundo foi sacudido por mais um filme dos Beatles. Empolgados com o sucesso estrondoso, tanto nas bilheterias como nas vendas de discos, de A Hard Day's Night, os rapazes investem novamente na Sétima Arte e trazem ao mundo seu mais novo longa-metragem, Help!, e, obviamente, com ele, o álbum contendo suas empolgantes canções, lançado no Reino Unido em 6 de agosto, e na semana seguinte, nos Estados Unidos.

Quatro meses depois, no início de dezembro de 1965, os Beatles lançariam simultaneamente nos Estados Unidos e Reino Unido (embora com listas de faixas distintas em ambos os países), uma de suas melhores e mais aplaudidas obras: o genialíssimo disco influenciado pela folk music Rubber Soul, considerado verdadeiro divisor de águas na carreira do quarteto: foi o primeiro disco gravado pela banda em regime de dedicação exclusiva, confinados nos estúdios Abbey Road durante as gravações (ao contrário dos anteriores, gravados no meio de turnês e outros compromissos), o que conferiu foco à banda e contribuiu para a excepcional qualidade artística da obra.


E com consideráveis quatro meses de atraso, ainda nos idos do referido mês de dezembro de 1965, enquanto Rubber Soul já era apreciado no exterior, eis que finalmente chega ao Brasil Help! em filme e em álbum. Diferentemente do que ocorreu com A Hard Day's Night, a versão nacional de Help! (MOFB 333 - lançada com o simpático subtítulo Trilha Sonora do Filme "Socorro") traz uma listagem de faixas distinta das versões britânica e norte-americana, misturando sucessos novos e anteriores da banda. Eis as seleções:
Lado Um: James Bond Theme / Help! / The Night Before / I Need You / You've Got To Hide Your Love Away / You're Gonna Lose That Girl / Another Girl
Lado Dois: Ticket To Ride / I'm Down / I Feel Fine / Thank You Girl / Ask Me Why / P.S. I Love You 

Avançaremos agora três meses na linha cronológica, embarcando no mês de março de 1966. Os Beatles, ainda na onda do lançamento de Rubber Soul, preparavam-se para embarcar em uma extensiva turnê pelo Reino Unido e pelos Estados Unidos para promovê-lo. Em paralelo a essa preparação, lançaram o compacto "We Can Work it Out/Day Tripper", que obteve enorme sucesso, chegando ao topo das paradas. Era perceptível que o ritmo de gravação da banda havia diminuido consideravelmente (haja vista as progressivas mudanças estilísticas do grupo - o critério "qualidade" dando lugar ao critério "quantidade"), o que fez com que diminuisse, igualmente, a quantidade de lançamentos com os quais as gravadoras inundavam as prateleiras das lojas. 

No Brasil, enfim chegava Rubber Soul (catálogo BTL 1001), com três meses de atraso em relação ao seu lançamento na Grã-Bretanha. A partir daqui, a gravadora brasileira Odeon (com pioneirismo até mesmo sobre a norte-americana Capitol Records, que só o faria um ano depois, em 1967) padronizaria seus lançamentos, de forma a proporcionar ao público brasileiro os discos dos Beatles em formato, arte de capa e listas de faixas idênticos aos lançados originalmente no Reino Unido. Foi assim com Rubber Soul e com todos os álbuns posteriores dos Beatles lançados no país: todos chegaram com conteúdo, arte de capa e listagem de canções fiéis às versões originais britânicas. O único problema que persistiria seria o atraso nos lançamentos dos álbuns. A esse respeito, eis as datas de lançamento dos álbuns dos Beatles no Brasil, a partir de Revolver:
  - Revolver: lançado em agosto de 1966 no Reino Unido e em outubro do mesmo ano no Brasil (BTL 1002);
 - A Collection of Beatles Oldies (coletânea): lançada em dezembro de 1966 no Reino Unido e em abril de 1967 no Brasil (BTL 1003);
 - Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band: lançado em junho de 1967 no Reino Unido e em setembro do mesmo ano no Brasil (BTX 1004);
 - Magical Mystery Tour: lançado originalmente como um EP duplo no Reino Unido (contendo apenas 6 faixas que apareceram no filme de mesmo nome) em dezembro de 1967, foi lançado inicialmente no Brasil no mesmo formato, em abril de 1968 (MMT 01/02). Posteriormente, com a padronização mundial da discografia dos Beatles, o EP duplo deixou de ser fabricado (até mesmo no Reino Unido), dando lugar ao formato LP editado pela Capitol Records (a coletânea de 11 faixas e capa amarela que todos conhecem);
 - The Beatles ("The White Album"): lançado em novembro de 1968 no Reino Unido e em fevereiro de 1969 no Brasil (BTX 1005/1006);
 - Yellow Submarine: lançado em janeiro de 1969 no Reino Unido e em abril do mesmo ano no Brasil (BTL 1007);
 - Abbey Road: lançado em setembro de 1969 no Reino Unido e em novembro do mesmo ano no Brasil (BTL 1008);
- Hey Jude: trata-se de uma coletânea de singles lançada originalmente pela Capitol Records, nos Estados Unidos, em fevereiro de 1970, e que por aqui foi lançada no mês seguinte (BTL 1009). Tal álbum não foi lançado no Reino Unido;
 - Let It Be: lançado em maio de 1970 no Reino Unido e em julho do mesmo ano no Brasil (BTL 1013).

Capa de Magical Mystery Tour (versão EP duplo de 6 faixas), tal qual fora editado originalmente no Brasil e no Reino Unido.
Capa de Magical Mystery Tour (versão Long-Play de 11 faixas) originalmente editado nos EUA pela Capitol Records, e que posteriormente tornou-se o padrão mundial. O livreto de 24 páginas também existe na versão EP Duplo (BRA/UK).

A partir da metade da década de 70, a discografia brasileira dos Beatles passou por uma profunda padronização: a partir daí, a antiga discografia nacional dos Beatles editada antes de Rubber Soul deixou de ser fabricada, dando lugar ao padrão discográfico original do Reino Unido. Álbuns como Please Please Me, Beatles for Sale e With the Beatles passaram a ser fabricados no Brasil, pela primeira vez, em seu formato britânico original, enquanto discos como The Beatles Again e Beatlemania tornaram-se relíquias fora de catálogo, disputados itens de coleção. As únicas exceções ficaram por conta de A Hard Day's Night, que, muito embora sempre tivesse a lista de faixas original britânica, continuou a ser fabricado com a arte de capa tipicamente nacional (Os Reis do Iê-Iê-Iê); e Magical Mystery Tour, que se padronizou no formato LP-Coletânea da Capitol Records, em substituição ao formato EP Duplo através do qual fora originalmente editado no Brasil e no Reino Unido. Dispensável mencionar, mas só a título de ratificação, que as edições nacionais em CD mantiveram o padrão mundial de conteúdo (arte de capa e listas de faixas britânicos - exceto Magical Mystery Tour, que também seguiu o padrão americano da Capitol Records).

APÊNDICE: "CRONOLOGIA SELOGRÁFICA"

Há que se tecer algumas considerações acerca dos vinis dos Beatles fabricados no Brasil. Suponhamos que você, enquanto colecionador de discos, resolve dar um passeio por alguns sebos de LPs de sua cidade, e de repente se depara com um álbum dos Beatles, decidindo comprá-lo. Como saber de que ano é a prensagem desse álbum? Será que realmente vale o preço que estão cobrando por ele? Eis a missão deste tópico: elucidar de vez essa dúvida.


As primeiras prensagens dos primeiros discos dos Beatles, datadas de 1964 e 1965, vinham prensadas no selo Odeon azul-escuro. Nas prensagens de 1964, disponibilizadas exclusivamente no formato mono, aparecia a inscrição "ALTA FIDELIDADE" do lado direito do selo. A partir de 1965, quando a Odeon começou a editar a discografia dos Beatles também em Stereo (porém falso stereo, é bom que se diga), a inscrição foi substituida pelo indicativo MONO/ESTÉREO.

De janeiro de 1966 a dezembro de 1967, o selo azul-escuro deu lugar ao selo Odeon branco (trazendo, pela primeira vez, o tradicional logotipo retangular bicolor da gravadora), e todo o catálogo dos Beatles lançado até então passou a ser prensado com este selo.


A partir de dezembro de 1967, o selo branco foi substituído pelo selo "Estrela Branca", o qual estampou as prensagens do catálogo dos Beatles feitas até dezembro de 1968. Todo o catálogo foi reprensado com este selo, durante 1968.


De dezembro de 1968 a dezembro de 1969, o catálogo seria reprensado usando o selo "Estrela Azul" em substituição ao selo "Estrela Branca". Isso não se aplica, obviamente, aos lançamentos dos Beatles a partir do Álbum Branco, que viriam a ser prensados sempre com o selo Apple Records. Portanto, o selo em questão só estamparia as reprensagens de Beatlemania a Magical Mystery Tour.


De dezembro de 1969 a dezembro de 1971, o selo "Estrela Azul" continuaria a ser o usado nas reprensagens dos Beatles, porém com uma ligeira modificação no logotipo da gravadora.


De 1972 até meados do fim da década de 70 (e já estamos falando da época em que a discografia brasileira dos Beatles foi padronizada para se igualar à britânica), as prensagens dos álbuns (até o Álbum Branco) vinham com o chamado "Selo Dourado" da Odeon. Tais prensagens estão entre as mais facilmente encontráveis em sebos, e custam barato.


Do final da decada de 70 até metade da década de 80, as prensagens vinham com o selo "Azul Claro". Vale ressaltar que a gravadora, a essa época, já havia mudado seu nome e logomarcas para "EMI Odeon". Concretizou-se, neste período, a padronização da discografia dos Beatles, havendo também significativas correções nas prensagens dos discos (corte das matrizes a partir de fitas de melhor qualidade e substituição significativa de versões falso-estéreo - defeito recorrente das prensagens dos anos 60 e 70 - por versões em estéreo verdadeiro). Tais prensagens também estão entre as mais comuns nos sebos de discos, a preços bastante acessíveis (até por R$ 5,00 é possível comprar um álbum dos Beatles prensado nessa época). Outra marca de tais prensagens é a inclusão de um simpático encarte ("The Beatles Collection"), não disponibilizado nas prensagens anteriores, mostrando todo o catálogo dos Beatles disponível em LP e os respectivos tracklistings.


A partir da metade da década de 80 até o início da década de 90, período em que o catálogo dos Beatles foi editado em CD pela primeira vez e cessou a produção de LPs da banda no Brasil, as prensagens vinham com o famoso selo preto "Arco-Íris", simulando o tradicional selo "Rainbow" usado pela Capitol Records nos anos 60 (semelhante ao da foto acima). É comum, em prensagens desse período, encontrar um adesivo na capa dos discos com a mensagem "Remasterizado Digitalmente", o que é forte indício de que tais prensagens foram cortadas a partir de matrizes digitais (suspeita-se, inclusive, de que o corte fosse feito, no caso específico dos discos entre Help! e Let It Be,  a partir dos próprios CDs). Curiosamente, os LPs situados entre Please Please Me e Beatles for Sale continuaram sendo prensados, nessa época, em versões estéreo, diferentemente das versões em CD dos mesmos álbuns, que traziam as versões em mono (somente em 2009, com a nova remasterização do catálogo dos Beatles, tais discos foram lançados oficialmente em CDs estéreo pela primeira vez).


É isso, meus caros amigos, depois de tanto escrever sobre os Beatles e seus LPs lançados no Brasil, resta-nos nos despedir de vocês (por enquanto, por enquanto...). Esperamos que todas as suas dúvidas acerca do catálogo brasileiro da banda tenham sido satisfatoriamente sanadas. Caso queiram se aprofundar ainda mais no assunto, recomendamos a leitura do magnífico artigo escrito por Gustavo Montenegro para o site beatles.com.br (http://www.thebeatles.com.br/discografia-br.php), que foi referência deveras útil na confecção do nosso próprio. Estamos abertos a críticas, elogios e a quaisquer outras considerações que desejem fazer para aprimorar o conteúdo deste humilde blog. Afinal, ele pertence a vocês também.

Grandes abraços a todos, e até a próxima!