Saudações analógicas a todos!
É chegada a hora de abrir os trabalhos deste humilde blog, cuja primordial missão é compartilhar com todos o amor incondicional aos discos de vinil e à espetacular experiência visual-sonora que os mesmos nos proporcionam.
E para começar em grande estilo, decidimos dissecar por completo dois relançamentos espetaculares de uma das melhores bandas de punk blues de todos os tempos: The White Stripes.
A banda foi formada na efervescente cena musical independente de Detroit, em 1997, pelo casal Meg e Jack White, e, desde sua formação, seu som caracterizou-se pela fusão da simplicidade do punk rock de garagem com a sofisticação rústica do blues de raiz. Guitarras sujas e distorcidas, vozeirão agudo, percussão grave e direta: tal amálgama permeou o som da banda desde seus primeiros lançamentos, que emergiram dos barris de carvalho já em 1998, tingindo de vermelho-e-branco a revolução que estava por vir.
Estamos nos referindo a dois compactos 45 RPM, lançados originalmente pelo selo independente Italy Records, de Detroit, gravados, mixados e prensados à moda caseira, no melhor estilo "faça-você-mesmo": "Let's Shake Hands" (com o lado B "Look Me Over Closely" - escrita por Terry Gilkyson especialmente para ser cantada por Marlene Dietrich) e "Lafayette Blues" (trazendo, no verso, "Sugar Never Tasted so Good" - gravação que, mais tarde, figuraria no álbum de estréia da banda, lançado no ano seguinte).
The White Stripes - Lafayette Blues b/w Sugar Never Tasted So Good (Italy Records, 1998) |
The White Stripes - Let's Shake Hands b/w Look Me Over Closely (Italy Records, 1998) |
Tais disquinhos foram fabricados, originalmente, em quantidades mínimas. "Let's Shake Hands" foi inicialmente lançado em tiragem de 500 cópias, prensadas em vinil vermelho, sendo posteriormente reeditado em 2002 (1000 cópias, em vinil preto) e em 2008 (1000 cópias, também em vinil preto); "Lafayette Blues" teve lançamento inicial de 1000 cópias (prensadas em vinil branco), tendo sido posteriormente reeditado em 2001 (1000 cópias em vinil preto). Desde o estrelato dos White Stripes, tais cópias tornaram-se disputados itens de colecionador, raramente encontrados no mercado e valendo algumas centenas de dólares no eBay.
No entanto, como todos sabem, o White Stripes infelizmente encerrou suas atividades em 2011, após 14 anos de atividade e um sucesso estrondoso obtido. Jack White, o gênio da banda, já participando extensivamente de inúmeros projetos musicais e consagrando-se também como produtor musical e dono de selo independente (Third Man Records), resolve relançar através do próprio selo ambos os compactos, até então raras peças de coleção. Uma forma singela e brilhante de homenagear os gloriosos anos em que esteve à frente de uma das melhores bandas de rock de garagem de todos os tempos. E é justamente esse o nosso propósito: dissecar tais relançamentos.
Primeiramente, falemos de "Lets Shake Hands/Look Me Over Closely". Trata-se do primeiríssimo lançamento oficial dos White Stripes, gravado nos idos de 1997 e lançado pela primeira vez em março de 1998. Conforme dito anteriormente, foi lançado pelo selo independente Italy Records, sob o número de catálogo IR-003. Tendo em vista a comoção causada pelo fim das atividades da banda, Jack White resolve reprensar e relançar o compacto, através do próprio selo independente, Third Man Records (http://www.thirdmanrecords.com). O relançamento se deu, com toda a pompa e circunstância a que teve direito, por ocasião do Record Store Day, em 16 de abril de 2011.
Acerca da qualidade da prensagem, é preciso ressaltar certas características peculiares a esse relançamento. Primeiramente, é notória a melhora na qualidade gráfica da embalagem, quando comparada à prensagem original da Italy Records. A capa e a contracapa passaram por uma significativa correção de cores, mostrando um vermelho vivo e pulsante, em contraste com o tom desbotado e falho da edição original (ver acima as ilustrações das capa original). De acordo com Jack White, em nota postada no website do selo por ocasião do relançamento, pela primeira vez o compacto saiu com o tom de vermelho desejado. Bonitão, heim?
Passando a examinar o próprio vinil, apesar de prensado em baixa gramatura, três fatos importantes merecem destaque.
Em primeiro lugar, de acordo com informações fornecidas no site da TMR, Jack White, demonstrando extremo cuidado, tratou de recuperar os stampers (placas metálicas usadas na prensagem dos discos) originais usados na primeiríssima prensagem do compacto, garantindo a preservação do som da primeira prensagem também nos relançamentos de 2011. Examinando com cuidado a deadwax (parte não gravada do disco, situada à borda do selo, e onde geralmente são feitas anotações), percebemos claramente os números rasurados "I 003 A" e "I 003 B" (vide foto) - estes eram os números dos stampers da edição original de 1998. Evitou-se, portanto, relançar o compacto com base nos stampers usados nas reedições de 2002 e 2008 (número dos stampers "ITALY 003 A" e "ITALY 003 B"), que apresentavam um defeito grave: a inversão dos canais de áudio.
Em segundo lugar, confirma-se a elevada qualidade do vinil pelo seu "pedigree": saído direto das prensas da tradicionalíssima fábrica de discos United Record Pressing (http://www.urpressing.com), situada em Nashville, Tennessee, a apenas algumas quadras do QG da própria Third Man Records. Para quem não conhece sua história, a URP está em pleno funcionamento desde 1949, e é reconhecida pela elevada qualidade de seus discos, tanto pelos selos independentes locais, quanto pelas maiores gravadoras do mundo. Para se ter uma ideia da importância da fábrica, os primeiros compactos dos Beatles lançados pela Capitol Records nos EUA foram prensados na URP, assim como diversos lançamentos dos selos Motown Records, Sun Records, Columbia Records... enfim, haja história! Qualidade garantida!
Em terceiro lugar, essa luxuosa reedição de 2011 foi primeiramente prensada em vinil vermelho-escuro (em quantidades não reveladas pelo selo) para venda somente na data do Record Store Day (vide foto) - cópias que hoje valem algumas centenas de dólares no eBay mais próximo de você. Mas não se desesperem, amigos: ainda é possível, por um orçamento não tão extorsivo, obter a sua cópia do compacto no próprio site da TMR - em vinil preto, é verdade, mas quem reclamaria por causa de um detalhezinho desse? Eu não!
Enfim, passemos agora a uma análise bem mais breve do outro compacto relançado, já que quase tudo relativo a "Let's Shake Hands" aqui também se aplica. Trata-se de "Lafayette Blues/Sugar Never Tasted So Good", segundo lançamento oficial do cânone dos White Stripes, gravado nos idos de 1998 e lançado pela primeira vez em novembro do mesmo ano, também pela Italy Records (número de catálogo IR-006).
Primeiramente, à arte de capa. Na edição original da Italy Records, o que se via era uma arte bem simples, mostrando pela primeira vez, em um lançamento da banda, duas balas de menta vermelha-e-branca (que a partir daí se tornariam o símbolo dos White Stripes) dispostas sobre um fundo branco, com os dizeres "The White Stripes" em vermelho. No interior, vinham encartados dois impressos em preto-e-branco, com qualidade de fotocópia, trazendo uma foto e informações sobre o Marquês de Lafayette (que é homenageado também na contracapa do compacto - elevado à categoria de "suporte e inspiração"). Para esta reedição de 2011, a arte passou por mudanças significativas.
De um lado, houve a inversão das cores da arte de capa original (o que era antes branco, passou a ser vermelho). De outro, não vieram encartados os impressos sobre o Marquês de Lafayette, mas em compensação, o compacto ganhou um simpático "gatefold", contendo ilustrações e traduções, do inglês para o francês, de termos relacionados a automóveis e trânsito - guardando certa relação de pertinência com a colonização francesa de Detroit. Na borda do gatefold, de um lado, o nome da banda em letras garrafais brancas, num fundo vermelho; de outro, a letra de "Lafayette Blues", que consiste basicamente em... diversos nomes franceses de ruas da cidade-natal da banda (originalidade é isso, senhores!)
Com relação ao vinil em si, quase tudo aplicável a "Let's Shake Hands" aqui também poderia se repetir. Entretanto, duas curiosidades merecem ser mencionadas. Primeiramente, as curiosas inscrições no deadwax, aparentemente acrescentadas exclusivamente para esta reedição (não pudemos confirmar se tais inscrições existem nas edições da Italy Records): no lado A, lê-se "LAFAYETTE, WE ARE STILL HERE!"; no lado B, a inscrição "STILL WAITING FOR NUTRASWEET TO CALL". Em segundo lugar, a prensagem de "Lafayette" disponibilizada exclusivamente para venda no Record Store Day veio em vinil branco com nuances negras, ao invés do vermelho de "Let's Shake Hands". De resto, vale tudo o que foi dito anteriormente.
TEST-DRIVE
Bem, por que não mostrar ambos os disquinhos em ação? Preparamos dois pequenos vídeos (de antemão, pedimos desculpas pela qualidade da imagem... estamos em falta de uma câmera decente) demonstrando como se comportam ambos os disquinhos no nosso toca-discos, ligado diretamente à placa de som. Enjoy!
É isso, amigos, essa é a contribuição inicial deste humilde blog, na missão de difundir o amor pela música analógica e suas peculiaridades. Esperamos que tenham curtido, e por favor, sugiram mudanças, afinal várias cabeças pensam melhor que uma!
Aquele abraço, e até a próxima!
The White Stripes - Let's Shake Hands b/w Look Me Over Closely (Third Man Records, 2011) - Capa |
The White Stripes - Let's Shake Hands b/w Look Me Over Closely (Third Man Records, 2011) -Contracapa |
Primeiramente, falemos de "Lets Shake Hands/Look Me Over Closely". Trata-se do primeiríssimo lançamento oficial dos White Stripes, gravado nos idos de 1997 e lançado pela primeira vez em março de 1998. Conforme dito anteriormente, foi lançado pelo selo independente Italy Records, sob o número de catálogo IR-003. Tendo em vista a comoção causada pelo fim das atividades da banda, Jack White resolve reprensar e relançar o compacto, através do próprio selo independente, Third Man Records (http://www.thirdmanrecords.com). O relançamento se deu, com toda a pompa e circunstância a que teve direito, por ocasião do Record Store Day, em 16 de abril de 2011.
Acerca da qualidade da prensagem, é preciso ressaltar certas características peculiares a esse relançamento. Primeiramente, é notória a melhora na qualidade gráfica da embalagem, quando comparada à prensagem original da Italy Records. A capa e a contracapa passaram por uma significativa correção de cores, mostrando um vermelho vivo e pulsante, em contraste com o tom desbotado e falho da edição original (ver acima as ilustrações das capa original). De acordo com Jack White, em nota postada no website do selo por ocasião do relançamento, pela primeira vez o compacto saiu com o tom de vermelho desejado. Bonitão, heim?
Passando a examinar o próprio vinil, apesar de prensado em baixa gramatura, três fatos importantes merecem destaque.
Em primeiro lugar, de acordo com informações fornecidas no site da TMR, Jack White, demonstrando extremo cuidado, tratou de recuperar os stampers (placas metálicas usadas na prensagem dos discos) originais usados na primeiríssima prensagem do compacto, garantindo a preservação do som da primeira prensagem também nos relançamentos de 2011. Examinando com cuidado a deadwax (parte não gravada do disco, situada à borda do selo, e onde geralmente são feitas anotações), percebemos claramente os números rasurados "I 003 A" e "I 003 B" (vide foto) - estes eram os números dos stampers da edição original de 1998. Evitou-se, portanto, relançar o compacto com base nos stampers usados nas reedições de 2002 e 2008 (número dos stampers "ITALY 003 A" e "ITALY 003 B"), que apresentavam um defeito grave: a inversão dos canais de áudio.
Em segundo lugar, confirma-se a elevada qualidade do vinil pelo seu "pedigree": saído direto das prensas da tradicionalíssima fábrica de discos United Record Pressing (http://www.urpressing.com), situada em Nashville, Tennessee, a apenas algumas quadras do QG da própria Third Man Records. Para quem não conhece sua história, a URP está em pleno funcionamento desde 1949, e é reconhecida pela elevada qualidade de seus discos, tanto pelos selos independentes locais, quanto pelas maiores gravadoras do mundo. Para se ter uma ideia da importância da fábrica, os primeiros compactos dos Beatles lançados pela Capitol Records nos EUA foram prensados na URP, assim como diversos lançamentos dos selos Motown Records, Sun Records, Columbia Records... enfim, haja história! Qualidade garantida!
Em terceiro lugar, essa luxuosa reedição de 2011 foi primeiramente prensada em vinil vermelho-escuro (em quantidades não reveladas pelo selo) para venda somente na data do Record Store Day (vide foto) - cópias que hoje valem algumas centenas de dólares no eBay mais próximo de você. Mas não se desesperem, amigos: ainda é possível, por um orçamento não tão extorsivo, obter a sua cópia do compacto no próprio site da TMR - em vinil preto, é verdade, mas quem reclamaria por causa de um detalhezinho desse? Eu não!
The White Stripes - Lafayette Blues b/w Sugar Never Tasted So Good (Third Man Records, 2011) [Capa] |
The White Stripes - Lafayette Blues b/w Sugar Never Tasted So Good (Third Man Records, 2011) [Contracapa] |
Primeiramente, à arte de capa. Na edição original da Italy Records, o que se via era uma arte bem simples, mostrando pela primeira vez, em um lançamento da banda, duas balas de menta vermelha-e-branca (que a partir daí se tornariam o símbolo dos White Stripes) dispostas sobre um fundo branco, com os dizeres "The White Stripes" em vermelho. No interior, vinham encartados dois impressos em preto-e-branco, com qualidade de fotocópia, trazendo uma foto e informações sobre o Marquês de Lafayette (que é homenageado também na contracapa do compacto - elevado à categoria de "suporte e inspiração"). Para esta reedição de 2011, a arte passou por mudanças significativas.
De um lado, houve a inversão das cores da arte de capa original (o que era antes branco, passou a ser vermelho). De outro, não vieram encartados os impressos sobre o Marquês de Lafayette, mas em compensação, o compacto ganhou um simpático "gatefold", contendo ilustrações e traduções, do inglês para o francês, de termos relacionados a automóveis e trânsito - guardando certa relação de pertinência com a colonização francesa de Detroit. Na borda do gatefold, de um lado, o nome da banda em letras garrafais brancas, num fundo vermelho; de outro, a letra de "Lafayette Blues", que consiste basicamente em... diversos nomes franceses de ruas da cidade-natal da banda (originalidade é isso, senhores!)
Com relação ao vinil em si, quase tudo aplicável a "Let's Shake Hands" aqui também poderia se repetir. Entretanto, duas curiosidades merecem ser mencionadas. Primeiramente, as curiosas inscrições no deadwax, aparentemente acrescentadas exclusivamente para esta reedição (não pudemos confirmar se tais inscrições existem nas edições da Italy Records): no lado A, lê-se "LAFAYETTE, WE ARE STILL HERE!"; no lado B, a inscrição "STILL WAITING FOR NUTRASWEET TO CALL". Em segundo lugar, a prensagem de "Lafayette" disponibilizada exclusivamente para venda no Record Store Day veio em vinil branco com nuances negras, ao invés do vermelho de "Let's Shake Hands". De resto, vale tudo o que foi dito anteriormente.
TEST-DRIVE
Bem, por que não mostrar ambos os disquinhos em ação? Preparamos dois pequenos vídeos (de antemão, pedimos desculpas pela qualidade da imagem... estamos em falta de uma câmera decente) demonstrando como se comportam ambos os disquinhos no nosso toca-discos, ligado diretamente à placa de som. Enjoy!
É isso, amigos, essa é a contribuição inicial deste humilde blog, na missão de difundir o amor pela música analógica e suas peculiaridades. Esperamos que tenham curtido, e por favor, sugiram mudanças, afinal várias cabeças pensam melhor que uma!
Aquele abraço, e até a próxima!
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